domingo, 11 de maio de 2008

O marco zero da mentira




Histórias de um tropeiro sem mula que virou governador: o que era para ser o marco da fundação de uma cidade se tornou um monumento que conta a história de uma trajetória política.

Aconteceu em “nossa querida Guanambi”, cidade do interior da “Bahia de Todos nós”, estado da República Federativa Brasil, “o País de todos”.

Há mais de um século, “à sombra do juazeiro e do umbuzeiro”, tropeiros da região se encontravam no incipiente comércio do lugarejo de “Beija-Flor”, encravada no meio das centenárias cidades de Caetité, de um lado e Palmas de Monte Alto, do outro. Ali nascia Guanambi, que em tupi-guarani, quer dizer Beija-Flor.

Dia 11 de abril de 2008: o novo dia da mentira – Nesse festivo dia se deu a inauguração do “Memorial Casa de Dona Dedé” e do referido marco. Os portais de informação do município conclamavam: “Uma grande multidão compareceu ao ato inaugural do memorial numa clara demonstração de apoio a atual administração municipal que além de investir na infra-estrutura da cidade também se preocupa com o resgate e preservação do patrimônio que faz parte da história do seu povo”, alardeou o site Farol da Cidade.



Voltando ao nosso marco, que é o objeto desse texto e que, aliás, completa um mês hoje, pouco se pode entender a seu respeito, principalmente com relação ao conteúdo da placa que se encontra pregada no monumento: em um texto mal escrito, até certo ponto tosco, Nilo Coelho ou seus correligionários, não se sabe ao certo o responsável, imprime a idéia de que a história de Guanambi está intimamente ligada à trajetória política do César da cidade, do cacique regional, do “último dos coronéis”, ou ainda, como diz a referida placa “o tropeiro que se tornou governador”, ou seja, o próprio Nilo. No mesmo texto, há a referência enfadonha à palavra “trabalho”, numa alusão clara à atual gestão do prefeito que tem como lema a frase: “Estamos Trabalhando”.



É simples desconstruir o texto: basta apresentar um contraponto a cada assertiva contida nele. Primeiro: Nilo Coelho nunca foi tropeiro. Segundo: ele não se tornou Governador, ou seja, o que ocorreu foi o fato do cargo cair no seu colo quando o governador eleito nas urnas, Waldir Pires, saiu candidato à Vice-Presidente da República junto a Ulysses Guimarães. Inclusive, para uma série de analistas, deixar o governo da Bahia nas mãos de Nilo, o vice, foi um dos piores erros cometidos por Waldir em sua trajetória política. Terceiro: se apropriar da palavra “trabalho”, da forma como é feita por ele, é nada mais nada menos que usurpar do próprio povo palavra tão cara a este. Há quem diga que Nilo Coelho nunca trabalhou em Guanambi, visto que seus negócios e seus latifúndios se encontram quase todos em outras regiões ou estados. Aliás, suas viagens freqüentes não deixam dúvidas quanto a isso.



Diante de tal constatação podemos perceber o quanto somos ridicularizados pelos que nos governam: tanta pompa, tanta auto-referência patrocinada por nós mesmos. “Guardamos um silêncio bem parecido com a estupidez”. Parece-me, que no Brasil, a verdade não foi feita para ser dita.




Wanderson Pimenta (morador da REG)
Posted on by Residência do Estudante de Guanambi | No comments

0 comentários: