sábado, 18 de outubro de 2008

Ética e educação


A poucos anos do fim da década, vivemos uma era de perplexidades e incertezas, ante-sala do novo milênio que se anuncia, repleto de desafios para os educadores. Afinal, que papel cumpre a educação em um mundo simultaneamente atravessado pelo desenvolvimento técnico avassalador e pelo crescimento vertiginoso da fome e da miséria? Que significa educar em um tempo em que a violência (política, étnica, religiosa, esportiva) atinge escala planetária, tornando tênues as fronteiras entre civilização e barbárie? Nesse contexto, múltiplas ações pedagógicas, muitas delas visceralmente antagônicas, se dão simultaneamente no dia-a-dia. No círculo familiar, nas salas de aula, nas ruas, nos morros, nas seitas religiosas, nas gangues de jovens, nas torcidas organizadas, enfim, nos mais diversos espaços sociais, diferentes valores morais, éticos e políticos constroem diferentes concepções de mundo e de homem. Essas diferenciações — saudáveis em toda sociedade que se pretende democrática e pluralista —, quando cozidas em um caldo de desigualdades sociais gritantes, degeneram em obsessões e fanatismos diversos, os quais querem afirmar suas verdades a partir da coação e do exercício da violência, pondo sob risco constante os mais elementares direitos da cidadania. Ser cidadão é poder apropriar-se dos bens socialmente produzidos, é atualizar “todas as possibilidades de realização humana abertas pela vida social em cada contexto historicamente determinado” (Coutinho, 1994, p. 2). Tal possibilidade de apropriação deixa de existir se no seio da sociedade se instala a competição exacerbada, expressa pelo que aqui no Brasil se conhece por “lei de Gérson”: querer levar vantagem em tudo.
O que sustenta essa “lei” é, sem dúvida, uma razão de natureza pragmática, a qual se ergue sobre os escombros da chamada razão universal. Esta certamente teve no passado seus dias de glória, mas, segundo afirma Baudrillard (1995), em um mundo onde o que importa é o que aparece, não há mais a possibilidade de fazer a crítica racional dos valores artísticos, morais ou políticos, já que o sistema tema inesgotável capacidade de absorver qualquer crítica, convertendo-a em instrumento de reafirmação de si mesmo. Na visão baudrillardiana, vivemos um tempo em que o aparente deixa de ser aparente pois tudo é na verdade superfície e imagem, o que permite proclamar o fim da história. Vendo o momento atual não como terminalidade, mas enquanto transição marcada pelo fim da centralidade da razão, que não mais desempenha o papel de guia seguro para as ações humanas, Maffesoli (1995) destaca o fenômeno do tribalismo. Por não acreditarem mais nos grandes valores morais e espirituais pregados pelas religiões nem nos ideais democráticos perseguidos pela ação política coletiva, as pessoas se fecham em grupos ou seitas, os quais são capazes tanto de construir algum tipo de ação solidária como toda a sorte de fanatismos.
Posted on by Residência do Estudante de Guanambi | No comments

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