sábado, 5 de novembro de 2011

A saúde da mulher

Eleger uma mulher para comandar o país pode ser sintomático, do ponto de vista da redução das desigualdades de gênero, mas não significa necessariamente um equilíbrio em relação aos homens no Brasil. Especialmente no campo da política, em que apenas 9,6% das cadeiras do parlamento são ocupadas por elas — pior índice entre países emergentes, os chamados Brics, e na comparação com nações em condições semelhantes, como o México. Mas é no campo da saúde pública que o tema ganha contornos dramáticos. Se, por um lado, houve uma redução expressiva da mortalidade materna, de 110 para 58 casos por 100 mil nascidos vivos entre 2010 e 2011, no quesito planejamento familiar, o país vai muito mal. Aqui, a cada mil mulheres que dão à luz, 75 são adolescentes, segundo o Índice de Desenvolvimento de Gênero (IDG). A taxa brasileira fica pouco abaixo da indiana, de 86.

"No Brasil, há uma questão contraditória. A gente veicula uma ideia de liberalidade sexual, uma superexposição de corpos. Nossos jovens iniciam a vida sexual muito cedo. Só que, na escola, extremamente conservadora, não há uma educação sexual que faça parte do cotidiano. Com os problemas sexuais fora da educação formal, o assunto fica rebaixado à experiência prática das adolescentes", diz Télia Negrão, cientista política e secretária executiva da Rede Feminista de Saúde. A especialista cita estudos realizados no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e na Bahia apontando a reação "moralista" dos profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) ao serem abordados por adolescentes que solicitavam camisinhas e métodos contraceptivos. "O Brasil destoa dos países da América Latina, que reduziram a gravidez na adolescência justamente com informação adequada e banindo essa visão moral da questão."

Aos 14 anos, Heloísa Santos espera o segundo filho. Ao contrário de Jéssica, que nasceu há nove meses, depois de uma gestação tranquila, a gravidez atual é de risco. "A médica disse que o útero dela não está desenvolvido, ainda é o de uma criança", explica a irmã, Elaine, 18 anos. Ela também já tem um filho, Cauã, de um 1 e 11 meses, e está grávida de outro menino. As jovens irmãs têm outro ponto em comum: ambas deixaram a escola entre a 6ª e a 7ª série. "Quero voltar a estudar", diz Heloísa.

Apesar dos planos, o momento é de repouso, devido aos riscos de problemas relacionados à gestação, que matam 58 mulheres por 100 mil nascidos no Brasil, segundo as Nações Unidas. "Essa taxa da ONU é muito condescendente com o Brasil. Nós estimamos em 70", rebate Télia, citando pesquisas elaboradas pelas organizações que fazem parte da Rede Feminista de Saúde. Segundo a especialista, os governos, inclusive o brasileiro, falham ao não incluir na política contra a redução dos óbitos no parto temas como planejamento familiar e reprodutivo. "Insistem em focar apenas no pré-natal e na atenção hospitalar, itens importantes, mas não únicos", diz. (RM)

O Brasil destoa dos países da América Latina, que reduziram a gravidez na adolescência justamente com informação adequada e banindo essa visão moral da questão"
Télia Negrão, cientista política e secretária executiva da Rede Feminista de Saúde.

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Postado por: Maikon Guimarães
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