quarta-feira, 30 de abril de 2008

Carta a Hilda Beatriz Guevara Gadea (sua filha), de 15 de fevereiro de 1965, pouco antes de ir para o Congo.


“Hildita querida:

Hoje eu te escrevo, embora a carta vá te chegar muito tempo depois; mais quero que saibas que me lembro de ti e espero que estejas passando o teu aniversário muito feliz. Já és quase uma mulher, e já não se pode escrever como às crianças, contando bobagens ou mentirinhas.
Hás de saber que contínuo longe e que estarei muito tempo longe de ti, fazendo o que posso para lutar contra nossos inimigos. Não é que seja grande coisa, mas algo faço, e creio que poderás estar sempre orgulhosa de teu pai, como eu estou de ti.
Lembra que ainda faltam muitos anos de luta e, ainda quando fores mulher, terás que cumprir tua parte na luta. Por enquanto, é preciso se preparar, ser muito revolucionária, que na tua idade quer dizer aprender muito, o mais possível, e estar sempre pronta para apoiar as causas justas. Além disso, obedecendo à tua mamãe não te creias pronta antes do tempo. Ele logo chegará.
Deves lutar por ser das melhores na escola. Melhor em todo sentido, já sabes o que quer dizer: estudo e atitude revolucionária, vale dizer: boa conduta, seriedade, amor à Revolução, companheirismo etc. Eu não era assim quando tinha a tua idade, mas estava numa sociedade diferente, em que o homem era o inimigo do homem. Agora tu tens o privilégio de viver outra época e é preciso ser digno dela.
Não te esqueça de dar uma volta pela casa para vigiar as outras crianças e aconselhar a elas que estudem e se portem bem. Sobretudo Aleidita, que tem muito respeito por ti como irmã mais velha. Bom minha velha, outra vez que passes muito feliz teu aniversário. Dá um abraço à tua mamãe e a Gina, e recebas um grandinho e fortíssimo que valha todo o tempo que não nos veremos de teu Papai”
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Fonte: Caros amigos, nº 35, outubro de 2007
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