quinta-feira, 24 de março de 2011

Paga mais quem tem menos

Com a política econômica de juros altos e que prioriza as exportações no setor primário, o povo brasileiro sofre com a alta dos preços dos alimentos.

Por Débora Prado

Lúcia é mãe de cinco fi lhos e trabalha como diarista na cidade de São Paulo. Em sua casa, no Jardim Ângela, vivem sete pessoas – são sete bocas para alimentar e, com isso, um terço de seu salário é gasto nas refeições diárias. Ela é uma entre os milhares de brasileiros que sofrem diretamente o impacto do aumento de preço dos alimentos, consequência de uma política econômica escolhida por poucos para benefi ciar pouquíssimos, mas que afeta muita gente.

“Estamos gastando bem mais e comendo menos, e isso só com o básico mesmo. Tá tudo subindo, tomate, laranja, ovo, açúcar. Carne nem se fala, começou a subir e não baixa mais, até a salsicha tá muito cara”, protesta Lúcia. A saída encontrada por ela é reduzir a quantidade para absorver o aumento de preços: “Tô reduzindo as compras lá em casa. Às vezes fazia uma coisinha diferente pra gente comer a noite, mas desisti, troquei a janta por um lanche.” O que Lúcia sentiu no dia a dia foi registrado nas estatísticas econômicas. Segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), em 2010, o índice geral registrou alta de 6,47%, enquanto o de alimentos subiu 10,42%. O economista Guilherme Delgado explica que essa conjuntura é fruto da política econômica dos últimos 10 anos.

“Nós temos um quadro de condições que favorecem a introdução e assimilação de pressões externas sobre os preços no mercado interno. Não é um problema causado por chuvas sazonais ou por conta de um fator isolado. Esse quadro tem relação com a inserção externa da economia brasileira, que se tornou uma grande exportadora de matérias-primas, produtos alimentares, e produtos agroindustriais conexos nesse período”, explica. Os dados levantados pelo economista, considerando o período de 2000/2002 a 2010, mostram que as exportações totais do Brasil subiram de uma média de US$ 57,9 bilhões para US$ 200 bilhões. Este salto foi acompanhado pela crescente participação dos produtos primários nos embarques, passando de cerca de 40% da pauta de exportações para aproximadamente 60% no ano passado.

Se, por um lado, o Brasil se especializou na exportação de primários, por outro, a economia mundial se torna cada dia mais demandante de matérias-primas e alimentos, principalmente pela vertente asiática, em países como a Índia e a China. Neste cenário, o Brasil tem transferido para o mercado interno as pressões inflacionárias dos mercados agrícolas mundiais com um agravante: o setor também sofre pressões de ações especulativas nos mercados financeiros.


http://carosamigos.terra.com.br/index/index.php/component/content/article/150-edicao-168/1515-alimentos-paga-mais-quem-tem-menos


Angelo Fernandes

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