terça-feira, 8 de junho de 2010

O fim da era desenvolvimentista

“O subdesenvolvimento, como o Deus Jano, tanto olha para frente como para trás, não tem orientação definida. É um impasse histórico que espontaneamente não pode levar senão a alguma catástrofe social”. Celso Furtado
Por Ari de Oliveira Zenha
Com a morte de Celso Furtado, ocorrida há alguns anos, encerrou-se definitivamente com ele, que foi o ícone da ideologia desenvolvimentista na América Latina, notadamente no Brasil, o que restava dessa era.
A característica básica do desenvolvimentismo, sempre esteve alicerçada numa visão utópica e enganosa da existência, principalmente em alguns países da América Latina, de uma elite autóctone, com interesses próprios e com um projeto político-econômico que proporcionariam a determinados países, apoiados por suas elites empresariais e intelectuais, implantar nas franjas do capitalismo internacional depois da Segunda Grande Guerra, uma alternativa próspera de desenvolvimento capitalista para estas antigas colônias - essa foi sua base de sustentação econômica-político-ideológica.
A ideologia econômica que marcou toda a era desenvolvimentista está envolta num keynesianismo, neokeynesianismo e com alguns lampejos marxistas e pseudomarxistas.
A importância histórica que teve o desenvolvimentismo em alguns países da América Latina estava alicerçada em uma situação mundial de reformulação e reconstrução do capitalismo sob a hegemonia Norte-Americana e na guerra fria. Não podemos nos esquecer, a nível mundial, do aparecimento e solidificação da social-democracia, do enfraquecimento/questionamento do stalinismo, da divisão internacional do movimento comunista e do revigoramento e consolidação hegemônica do imperialismo dos Estados Unidos da América como representante e propulsor mundial do capital.
A importância que teve em alguns países latino-americanos a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), criada pela primeira vez como um núcleo intelectual do pensamento voltado para o estudo da realidade sul-americana, principalmente, e do México, contribuiu para fomentar pensamentos e ações para reverter o processo de subdesenvolvimento. O prestígio do pensamento cepalino nunca ultrapassou as fronteiras latino-americanas, sua repercussão e contribuição para o pensamento crítico internacional bem dizer não existiu. Entretanto, teve grande influência principalmente entre os intelectuais e em determinada parcela da elite empresarial latino-americana.
O domínio do pensamento econômico conservador norte-americano sempre esteve presente na Cepal, ora com maior vigor, ora não, mas sempre existiu.
Uma discussão que deveria ser feita, e seria muito importante, é a interação entre liberalismo e o desenvolvimentismo, durante a construção teórica e prática da teoria desenvolvimentista. Como se interagiram estas duas correntes do pensamento econômico, tanto nos embates teóricos como na divisão de poder que se estabeleceu entre elas.
O liberalismo, não só como pensamento econômico, político e filosófico conservador do capitalismo sempre teve forte raiz na América Latina, não só entre os intelectuais como entre as elites empresariais.
A teoria desenvolvimentista, além de várias contribuições, teve como relevância romper com o unitarismo filosófico, o liberalismo, que dominava a América Latina, à época.

Ari de Oliveira Zenha é
economista

http://carosamigos.terra.com.br/


postado por Angelo Fernandes
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